sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Interrupção temporária

Queridos seguidores,
estarei fora do ar por alguns dias, volto em breve.
Bjs

domingo, 15 de novembro de 2009

Tentativa de voltar a estudar.

Logo que a minha filha nasceu, a minha sogra e marido, se imbuíram do espírito de me fazer retornar aos estudos. Me matricularam em um colégio no Humaitá. Eu comecei a estudar a noite, era estranho e facilitador. Conheci e fiquei amigas de várias pessoas, o meu dedo podre não falhou, os amigos mais próximos eram DQs.
Matava aulas, não entendia nada e detestava estar ali. Eu não sabia, mas sofria de DDA (déficte de atenção), mais um distúrbio.
Não me recordo, mas aprontei algumas e saí do colégio. Parei de estudar, para nunca mais voltar, lastimável...

O que me salvou (culturalmente), era o fato de amar a leitura. Meu pai e a minha avó, eram intelectuais, liam muito, ouviam música clássica, faziam palavras cruzadas, e o papai escrevia, e em vários idiomas. Herdei isto de bom deles.

A vida seguia aos trancos e barrancos. Naquele colégio, fiz uma amiga especial, ela era sem dúvida a minha melhor amiga daquela fase, o nome dela era Marcia. Saí do colégio mas, a amizade continuou.
Me esqueci de citar, que por várias vezes e por vários motivos, moramos no Hotel Santa Teresa, isto será importante mais pra frente.

Voltando ao casamento, tudo ia de mal a pior, brigas, ciúmes, drogas, amigos perturbando. Logo depois do incidente da fazenda em Mangaratiba,o Renato assumiu o namoro com a namorada 2, e começaram a frequentar a minha casa.
Era um terror, eu não suportava a namorada, e pior, ela levava sempre a amiga. Eu intuía, mas era tudo muito confuso, que aquela amiga iria me trazer problemas.
Era sempre humilhada e distratada na minha própria casa, pelas duas imbecis.
O Rogério nada fazia, consequentemente eu ficava cada vez mais agressiva. Hoje compreendo perfeitamente o meu comportamento.

Houve um fato tb muito grave, que por mais que eu tente entender, não entendo.
A mãe do Renato, era uma mulher muito estranha, ela namorava um padre, que mais pra frente, virou ex padre. Este relacionamento, como não poderia deixar de ser, era velado, mas muita gente sabia, principalmente a família dela.
Aconteceu, que ela (acho), tinha um outro namorado, e alguém escreveu uma carta anônima para o padre, foi um tumulto, e quem foi a acusada de ter escrito? Eu, isso mesmo, eu. A minha vida virou um inferno, o Rogério não acreditava em mim, acho que nem a minha sogra, eu não tinha mais como me defender de tamanho absurdo, estava fraca e desolada. Pq me atribuíam tal culpa?

O padre, logo que soube de tamanho disparate, saiu em minha defesa, alegou que, eu jamais teria aquela qualidade de escrita e tanto veneno. Estas declarações, envergonharam a todos que me culpavam, menos a mãe do Renato, que guardaria ódio de mim por mais de 20 anos. Mais tarde foi esclarecido, quem escreveu a tal carta, foi a irmã da mãe. Um horror.

Boa semana,amigos!
Domingo que vem continuo.

domingo, 8 de novembro de 2009

A compulsão e a derrocada

Eu já estava novamente nas garras da adicção. O perfil da personalidade se modificava à olhos vistos. Sempre fui uma menina doce, de certo modo tímida, cordial e meiga, mas já estava me tornando agressiva, intolerante e irracional.
A anfetamina era essencial para me animar, e precisava de remédios para dormir. Acordava mal humorada e infeliz, aí recorria ao hipofagin para estabilizar o humor, ficava agitadíssima, era uma bola de neve e o Rogério não percebia, pois só me via a noite.

Começaram as brigas. Ele era tudo para mim, mas já não havia mais nenhuma racionalidade, a co-dependência se instalara e o ciumes doentio tb. Até hoje não sei o que era fato ou imaginação. Os amigos não davam trégua, as interferências eram fortes e prejudiciais ao relacionamento do casal. O Rogério começava a perceber a enrascada em se havia metido, a pouca idade e o entusiasmo da paixão o levaram a uma dolorosa experiência prematura.

Ele (Rogério), começava a negligênciar os compromissos do casamento, chegava tarde e por uma ou duas vezes não dormiu em casa. Em uma destas vezes em que não dormiu em casa, no dia seguinte havia um almoço na casa da minha sogra, ele chegou no final da tarde, não sei como consegui me controlar, mas quando chegamos na nossa casa, descarreguei toda a fúria contida. O meu cunhado na ocasião, havia nos levado em casa e foi a vítima. Arremessei um vaso grande na direção do Rogério, ele desviou e acertei em cheio na cabeça do Claudio, este teve um corte profundo na testa e perdeu os sentidos. Foi o começo do fim.
Eu já percebera, mesmo muito vagamente, que havia algo de errado comigo.

Vou recuar um pouco no tempo. Lá no interior mineiro, onde eu morava com a vovó, eu manifestava alguns sinais de distúrbio, além daquela cena pavorosa com o papai, me envolvi em outra situação grave. A família nunca soube como aconteceu de fato, aliás ninguém. A cidade era Sete Lagoas, havia uma corrida de motos em torno da lagoa central, era um evento e tanto. Combinei com algumas amigas e fomos, chegando lá, as motos estavam aquecendo os motores e correndo para lá e para cá, numa distração das amigas, me joguei na frente de uma moto. O saldo foi bem negativo, me cortei toda, fiquei em frangalhos. Acho que queria morrer.

Fazíamos loucuras quando nos drogavamos, as vezes saíamos do perímetro urbano e íamos para as fazendas próximas, isto quando chovia, pois era a época dos cogumelos. Levávamos docinhos de leite e comíamos in natura mesmo, nada de chá. Voltávamos já ao anoitecer e o caminho era a estrada desativada oficialmente que ligava BH a Brasília, mas ela ligava 5 ou 6 cidades, ou seja tinha movimento. Me recordo de um destes finais de tarde, a lua ia alta e cheia, a onda era alta tb, resolvemos deitar exatamente no meio da estrada e ficar viajando. Preocupação nenhuma e proteção total do Poder Superior. Eu vivia desafiando a morte.

Também fui vítima de muitas armadilhas criadas por "amigos" e da própria vida.
Já casada e com a filhinha ainda bebe, aceitamos um convite do Renato e da namorada (outra, não menos pior do que a anterior) para uma viagem de fim semana. Era uma fazenda na serra de Mangaratiba de um amigo dela (vou chama-la de namorada 2). Lugar muito interessante, e estava cheio de convidados. Recebemos o nosso quarto e nos instalamos. Eu, nesta época ainda não havia retornado as drogas, estava limpa e feliz.

O Rogério já enturmado, eu meio deslocada, até pq, a namorada 2 não fez questão alguma de me apresentar as pessoas. De vez enquando eu procurava o Rogério e ele me procurava, neste meio tempo, eu explorava a natureza. A noite caiu e eles fizeram uma enorme fogueira em volta da lagoa, todos bebiam e se drogavam, eu ficava cada vez mais deslocada. A namorada 2, tinha uma amiga muito antipática e bonita, e já estava intima do Rogério, mas me ignorava. Com o passar do tempo e a loucura crescida, todos menos eu, ficaram nus na fogueira. Fiquei na sala e adormeci, a luz era de lampião, acordei com caricias sob a minha calcinha, permiti crendo que era o Rogério, mas não era, era o dono da casa.
Levantei num salto e corri para a fogueira e para o lado do Rogério. Ele estava doido, mas percebeu que havia algo de errado comigo, me inquiriu, eu dissimulei, disse que havia tido um pesadelo. Fui para o quarto e me tranquei. Quase amanhecendo o Rogério bateu na porta achando muito estranho eu estar trancada, e ainda querendo saber o que havia acontecido, comecei a chorar e acabei relatando.

Hoje,percebo que não deveria ter contado, pois a reação dele foi a pior possível, procurou o cara, e quando achou, bateu muito nele, eram chutes com o coturno, socos e sei lá o que mais. Eu estava apoplética.

Começamos a arrumar as coisas para voltar, o Renato, a namorada 2 e a amiga, voltariam conosco. A viagem de volta inteira, fui agredida verbalmente pelas duas, e o Rogério não me defendeu. Foi um pesadelo.

Paro por aqui, estou tremendo com estas lembranças...
Abraços, queridos amigos, obrigada por dividirem comigo este passado doloroso.
Dor dividida é dor diminuída.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Retomada do blog

A minha vida fluia com muita alegria e entusiasmo. Lidava com a inveja, que aliás sempre me acompanhou de perto, coisa que nunca consegui entender, pois tivera tão pouco e ainda assim, era e ainda sou alvo certo da inveja alheia, acho que pela minha alegria nata, minha capacidade de superação e pela minha boa índole.

A minha tão esperada e desejada filha nasceu, cercada por muitos mimos e cuidados. Nasceu com muita saúde e linda, recebeu o nome de Andrea. Era um amor de criança, muito boazinha.

A minha vida nesta época, parecia um conto de fadas, tinha o homem que amava, a filha desejada e segurança. Passeava diariamente no Parque Laje com ela, dividia os cuidados com a minha sogra, que era muito diligente.

A Andrea contava com alguns meses, quando nos mudamos para o apartamento de cobertura que ganhamos dos meus sogros na Tijuca. Lá as coisas começaram a ficar um pouco mais difíceis, eu era finalmente a dona da casa.

Encontrei muita dificuldade em exercer tal função, pois não sabia nada, a vovó não me havia preparado e também não teve tempo, tudo em mim era precoce. Eu tinha apenas 17 anos, uma filha, marido e uma casa. O meu marido tinha uma úlcera duodenal e requeria cuidados especiais com a alimentação, eu por minha vez não tinha, como não tenho até hoje, habilidades culinárias. Começou a ficar difícil, a Andrea exigia muita atenção (como qq bebe), o apartamento era relativamente pequeno, mas dava trabalho. Comecei a negligenciar.

Com o advento do apartamento, os amigos, que nos frequentavam na casa dos meus sogros, o faziam parcimoniosamente por ser a casa dos sogros, mas a coisa ficou muito diferente quanto passamos a ter o nosso lar. Virou a casa da "sogra" todos os dias a casa estava cheia, o Rogério estudava a noite e quando voltava, estava invariávelmente acompanhado de algum amigo e da namorada. Eles dormiam por lá mesmo, o que começou a me aborrecer. Todos usavam drogas e logo eu recomeçaria a me drogar.

A coisa começou devagar, para rapidamente dar espaço a uma compulssão desenfreada. Nada ajudava, ficava sosinha o tempo todo, o Rogério trabalhava período integral e estudava a noite, o endereço era Tijuca, quase ninguém, exeto os malucos (e a noite), iam me visitar, não conhecia ninguém naquele bairro que me parecia hostil. Eu começava a ficar nervosa com qq coisa, a Andrea não gostava de comer, isso me deixava muito aflita, aí eu brigava e dava palmadas nela, depois o remorso me atormentava, percebia que não estava me saindo bem como dona de casa, e várias outras coisas das quais não estava acostumada e tão pouco supus que aconteceriam, estavam acontecendo. Não era um conto de fadas, "era a vida como ela é".

Logo depois que a Andrea nasceu, me receitaram um remédio para ajudar a voltar ao peso anterior. Adorei, o remédio era uma anfetamina, ainda não conhecida por mim. Hipofagim, operava maravilhas na minha "vida", me induzia a uma disposição absurda e sempre tudo estava bem. Quando cheguei ao peso ideal, não conseguia mais viver sem a droga, passei a fazer dele (remédio) uso continuo e de acordo com o meu humor e atividades rotineiras.

Ainda não tinha me dado conta da gravidade da situação e ninguém me sinalizou nada, naquela época, tudo relacionado a drogas e aos seus efeitos, eram ainda ignorados, só havia o tabu.

Continuo em breve.
Só por hoje, estou limpa há 10 anos 8 meses e 22 dias.
Somente pela graça de DEUS, e pouco da minha boa vontade.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Interrupção temporária

Queridos seguidores, há 2 semanas atrás, caiu um raio muito próximo a minha casa e queimou o meu HD, estou sem máquina.
Não estou tendo tempo no trabalho para voltar a escrever, em breve terei um novo computador, ou assim que disponibilizar de tempo no trabalho, atualizarei.
Peço mil desculpas, mas sou completamente impotente diante das ações da natureza.
Muito obrigada por se interessarem pela minha história e por me estimularem a exorcisar os meus pesadelos.
Beijos carinhosos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A mamãe apenas aguardava a confirmação do casamento para desencarnar.
A tramitação dos documentos era lenta e complicada, os papeis vinham de MG para o Rio e voltavam, estava sempre faltando alguma coisa, enquanto isso a mamãe definhava.
No dia 16 de janeiro de 1976 ás 10:00 ela falecia e eu me casava.
Houve um almoço para poucos convidados, durante o almoço o clima era de apreensão, todos sérios e cabisbaixos, eu quase não reparei isto, pois estava feliz. O meu então marido e a minha sogra de fato, guardaram segredo até a despedida dos convidados, e logo me deram a notícia. Fiquei perplexa, acho que não acreditava na morte, jamais havia visto uma de perto.

Partimos para BH de carro, chegamos ás 04:00 da manhã e nos dirigimos para o hospital.
Chegando lá, fui direto para a capela onde encontrei um único caixão, era o dela, fiquei parada diante de uma ausência de vida, não entendia o que estava sentindo, mas sentia medo. Havia um véu sobre o rosto, tive vontade de ve-la, mas não tinha coragem, até que consegui e foi a coisa mais impactante que eu já vivera até aquele momento, era chocante a cara da morte, já não tinha mais a mamãe ali. As lágrimas desceram e o Rogério me tirou dali. Foram as únicas lágrimas que chorei, não fui ao enterro e tb nunca soube onde ela foi enterrada. Ali encerraria a minha história com a minha mãe.

De volta ao Rio, a vida me esperava, eu estava feliz e segura, tinha uma família e quase não usava drogas. A nossa vida fluia, tinhamos os amigos de antes e estavamos sempre juntos, o Renato era o amigo que eu realmente gostava, era muito animado, inteligente, a sua compania me agradava muito, mas ele tinha uma namorada terrível, invejosa, feia, maledicente e muito competente nas suas intrigas. Era a parte desconfortável, ela estava sempre entre nos, pois era a namorada do nosso melhor amigo, eu tinha que atura-la, o que fazia com alguma ingenuidade, não percebia toda a sua maldade. Em função das suas intrigas, eu vivia tendo que me justificar e recusando culpas que me eram atribuidas, mas ainda eram aborrecimentos leves.

Eu tinha vontade de ter um filho e participei isto a familia, a minha sogra foi contra, mas já era tarde, eu estava grávida!!! Foi o momento mais sublime da minha vida, eu me sentia plena, tudo pelo que eu já havia passado, me parecia nada diante de tamanho presente de Deus.
Disse adeus as drogas, cigarros e adotei uma vida saudável e durante toda a gravidez foi assim.
Isto, era a manifestação de um bom senso que me impediria de descer muito e garantir o mínimo de dignidade nos anos futuros.

Em breve, novas postagens.
Me sinto feliz por ter vcs para compartilhar a minha vida.
Dor dividida é dor diminuida.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A minha vida começou a se complicar ainda mais, os amigos da mamãe que supostamente cuidavam de mim, capitularam. A babá começou a implicar comigo e a medir força, o casal se ocupava de tudo menos de mim (coisa que me agradava), ele era engenheiro e membro ativo do MR8, ela era alguma coisa do cerimonial do Itamaraty, os dois filhos problemáticos e o alcoolismo tomavam todo o tempo deles. Logo a crise com a babá se agravou e entre a babá e eu, ficava a babá.

Mamãe em viagem, não sabia de nada, e acho que tb não se interessava muito. Fui para a casa de uma amiga, sentia medo do que estava acontecendo, não tinha chão, por isto tb, me drogava cada vez mais.
Quando saí do Jardim Bôtanico, não deixei rastro, só o vizinho sabia ( o nome dele é Rogério, passarei a trata-lo pelo nome).
Uma determinada noite, recebi uma visita inesperada, era o Rogério e bastante preocupado, ele trazia a notícia de que a mamãe estava em Juiz de Fora internada num hospital e que eu fosse para lá imediatamente.

Fiquei atordoada, como ir para lá? Não tinha dinheiro, não sabia como chegar e teria que deixar o colégio (isto era o que me agradava).
O Rogério percebeu a situação e foi logo tomando providências, era a chance que ele via de me conquistar . Pediu o carro para o pai, desistiu da viagem que faria nos próximos dois dias para a Africa, pegou umas roupas e foi me pegar, partimos as 02:00 da manhã.
Eu contava com 14 anos e ele com 18.

Chegamos em Juiz de Fora no amanhecer, procuramos uma pensão e nos instalamos, era um quarto para nos dois, fiquei super apreensiva, pois era virgem e tinha medo de me "perder" (termo usado na época).
Fomos direto procurar o hospital em que a mamãe se encontrava, chegamos lá, me deparei com uma mulher, muito magra, abatida e sem a beleza que lhe era peculiar.
O médico me chamou em particular e disse logo tudo, ou seja, que a mamãe estava com um cancer muito agressivo e que teria pouco tempo de vida. Fiquei atônita e mais perdida ainda. A vovó tinha me despachado e agora a minha mãe estava morrendo, eu era filha única e com 14 para 15 anos, totalmente despreparada para qq coisa, a única luz que eu tinha era o Rogério.

Ficamos uns 6 meses as voltas com a mamãe, ele me ajudava em tudo, era de fato um enviado de Deus. Por fim conseguimos interna-la em um hospital oncológico de um parente da vovó em Belo Horizonte.

Assim começou a nossa vida juntos, não iriamos mais nos separar, mas tinhamos um problemão, eu era menor e nada podia fazer sem autorização, morando no Rio com a minha futura sogra e os meus "responsáveis" em MG.
A família dele de acordo com a minha, chegaram a conclusão que deveriamos formalizar a situação nos casando. Foi uma ótima solução e única. Eu era apaixonadíssima por ele.
Nesta ocasião, reduzi bastante o meu uso de drogas, estava feliz!

Volto em breve, abraços amigos.

domingo, 11 de outubro de 2009

A mamãe tinha um namorado, um sujeito estranho..., eles eram sócios de uma fazenda em Goiás, onde havia plantações de arroz, por este motivo, viviam viajando e ficavam mais por lá do que no Rio, logo, eu já estava aos cuidados de outras pessoas.

O casal amigo era alcóolatra, tinham dois filhos e uma babá. Era muito querida por eles.
Certa vez a mamãe de volta de uma de suas viagens, se trancou no banheiro e não parava de vomitar, pensei que tivesse bebido, mas ela, como o papai, não bebia nada. Era a manifestação de um cancer duodenal que já a corroia e em breve a levaria a óbito.

Com o casal, eu ia a muitos lugares legais, tb não muito próprios para a minha idade, mas eu era amadurecida e muito desenvolvida para a idade (14 anos). Frequentava o teatro Casa Grande, o Luna bar e o Pier. Era o maxímo, e eu sempre com a muleta (droga).

Eu precisava camuflar o meu uso, chamar menos atenção para ele, foi quando tive uma idéia que me agradou muito.
Me lembrei que ouvi certa vez, que a castanha do cajú in natura, provocava uma forte queimadura em contato com a pele, tratei de achar um cajú, cortei ao meio a castanha e a coloquei em contato com a minha bochecha, resultou em uma feia queimadura. Gol, todos queriam saber o que havia acontecido, e a ferida não fechava nunca, pq eu vivia a alimentando.
Dissimulei, falei que tinha aparecido do nada, me levaram a diversos dermatologistas, todos intrigadíssimos em como aquilo acontecia, e eu sustentava a mentira.

A história do cajú durou meses, para logo dar espaço a uma nova estratégia, que consistia em uma simulação de problema no joelho. Certa vez fui parar no hospital MIguel Couto por algum motivo, lá fui atendida por um médico residênte e, logo me apaixonei (platônicamente), então, uni o "útil ao agradável", teria que continuar vendo o tal médico e a atenção estaria voltada para a minha perna, que ficou engessada por mais de um ano. Assim eu faltava as aulas, tinha tempo e liberdade para usar drogas sem ser incomodada.

Com a perna engessada, um dia no colégio, saimos para fazer o lanche (não tinha cantina na escola), comprei coca-cola e um sanduiche, me afastei das pessoas, quebrei a garrafa e enfiei o gargalo na boca, consegui promover uma cena patética, toda ensanguentaada fui levada de novo ao Miguel Couto. Tem um detalhe, o meu visinho, me visitava com alguma frequência nos intervalos, levava, por minha insistência, cartelas de mandrix, que eu tomava lá mesmo. Neste dia da garrafa eu havia tomado vários, tinha que desviar a atenção de mim para o ferimento.
Algo de muito errado estava acontecendo comigo, já era clara a 2ª comorbidade.

Até mais.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Rio me esperava de braços abertos.
Tive uma recepção maravilhosa, a mamãe estava morando com um casal de amigos no Jardim Botânico, um maravilhoso apartamento, lindo, espaçoso e confortável. Fizeram uma bela produção para me receber. O tempo passava e eu não percebia, sentia saudades da vovó, do namorado e do meu cachorro, até que um dia, de cama, acometida por uma fortíssima cólica, que nada resultava em melhora, fragilizada e só pensando na vovó, resolvi perguntar quando eu voltaria, e para minha grande estupefação, a mamãe declarou que eu não voltaria, fiquei louca, como não voltar? E a vovó? Ela não iria gostar nem um pouco daquilo, pensei , e foi quando soube que aquilo era um plano armado pelas duas.

Perdi a referência, aquilo não era possível, a vovó me traíra... chorei, esperniei, disse que não moraria com ela (mãe), fiquei irracível, devo tê-la magoado muito. E o namorado? Fechei luto por dias, até que o sedutor Rio de Janeiro me engolfaria por décadas.

Providências foram tomadas, me matricularam num colégio no Humaitá, próprio para os pais pagarem e os filhos passarem de ano. Mamãe tinha excessos de cuidados comigo, caso descesse no prédio, ficava na sacada me observando, aquilo me incomodava, mas aceitava conformada.

Comunicativa, amiga, gentil e muito ágil eram algumas caracteristicas da minha personalidade, assim, rapidamente me enturmei com os vizinhos e com a galera do colégio, logo, era a lider das turmas.

Fiquei especialmente amiga de uma turma, que se reunia na casa de um dos integrantes que era meu vizinho de prédio, eu já estava interessada em um deles, mas quem se interessou por mim, foi o vizinho, rapaz muito legal e apaixonado, porém o que nele me interessava eram as drogas, sempre e apenas elas, ele falsificava receitas e sempre tinha uma quantidade que me atendia. Já nesta época, eu usava quantidades imensas de comprimidos, tinha uma compleição física que suportava bem o tranco.

O achava sem graça, em nada me atraia, mas a mamãe o achava ótimo, digno de confiança e só me deixava sair com ele, grande erro de avaliação.
Por estes dois motivos, drogas e a confiança da mamãe, estabeleci uma relação da qual eu não saia da moita e dava esperanças sempre. Já estava me especializando em manipulação.

Volto em breve, até.
A progressão da minha doença era lenta, mas corrosiva.
Com 13 anos abandonei os estudos, já não obedecia a mais ninguém e era imperativo o uso de drogas.
A vovó tentou tudo que podia fazer, mas nada tinha eco. Logo declarou a sua impotência diante de uma força tão devastadora, acordou com a minha mãe, que havia chegado a hora dela tomar as rédeas da situação, Imagino o quanto deve ter sido dolorosa esta decisão, pois implicaria no nosso afastamento, e não imaginava que seria para sempre, talvez até tivesse esta intuição. Era patente o seu grande amor por mim.

Nesta ocasião, eu tinha um namorado, o 1º, 14 anos mais velho, e é claro tb usava drogas. Eu era apaixonada, exessivamente apaixonada, estava dada a largada de outra profunda dependência que me acompanharia a vida toda, a co-dependência.

Um dia qualquer de 1973, fui comunicada pela vovó que iria passar alguns dias no Rio, Fiquei deslumbrada com a notícia, amei a idéia. E assim fui, feliz, alegre e inocente, me separar para sempre da pessoa que mais amava na vida.

Volto a qualquer momento para dar continuidade neste relato. Até logo.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

No dia 10 de Junho de 1959, na cidade do Rio de Janeiro, dei as caras no mundo, muito a contra gosto do papai.
Tive uma infância saudável, tinha muito amor e carinho da vovó. Separada da minha mãe e convivendo com a indiferença paterna.
Assim começou a vida desta adicta (dependente química), que desde janeiro de 1999 está limpa, somente pela misericórdia de Deus e pela minha boa vontade. Vivo com relativo acerto.
Apartir de agora, relato uma longa jornada de muitos tropeços.

Meu pai nunca bebeu, tão pouco usou drogas, mas sofria de um forte desequilíbrio mental, era extremamente anti-social e violento. Aliviava a sua ira, na vovó e em mim. Apanhei muito e sem motivos, ele tinha ódio da mamãe, e desde sempre, eu era obrigada a emprestar os meus ouvidos para os maiores absurdo e deploráveis desabafos, contra a minha mãe, e, se por algum arroubo de revolta eu me manifestasse contra a sua opinião, era surrada instantaneamente.

Me recordo, com vergonha e tristeza, que por duas vezes, os vizinhos chamaram a polícia, por não aguentarem a violência em mim infringida. Quiseram lincha-lo, por suspeitar que ele me violentava sexualmente, mas isto nunca aconteceu, sofri muito com os abusos físicos (surras) e psicológicos, mas , abuso sexual, nunca.

Eu já devia contar uns 8 anos, quando começaram a surgir alguns distúrbios psicológicos, não gostava de estudar e tão pouco aprendia, em consequência disso, a minha, já frágil auto-estima entrou em queda. Me sentia a mais feia e burra das meninas, quando isto não era verdade, hoje sei. Era alta, loura, corpo escultural, ótima atleta de natação, era bonita, mas encoberta por um sentimento de inferioridade.

Via a minha mãe uma vez por ano, e a aguardava com muita ansiedade, mas para receber os presentes, aí se iniciava uma inversão de valores. Cresci em meio de alguma dificuldade financeira e muita desarmonia familiar.
Aos 11 anos, conheci uns garotos que me apresentaram as drogas, bolinhas, era como eram chamadas, tratava-se de comprimidos para os mais diversos males, cardiopatias, demência, escleroses e por aí a fora, mas para mim, tinham uma única finalidade; anestesiar, alucinar, pintar com outras cores a minha cinza vida.
A vovó era farmacêutica, era responsável pela maior drogaria da cidade, e eu tinha acesso e crédito nesta farmácia. comprei e roubei muito, comecei com os xaropes, Ambenil, Pambenil, Rumilá, passei para as tais bolinhas, Mandrix, Mequalon, Artania, Optalidon e tudo ou qualquer coisa, que tivesse o milagroso efeito de me tirar daquela vida dolorosa e triste.

Eu era uma menina digna, com princípios morais acentuados e muito bem educada.
Temia o papai , em verdade, tinha pavor dele, até que um dia, dia de fúria dele, tive um surto, Arremessei cadeiras, gritei tudo que desejava falar, avancei nele e sai correndo para uma roseira no jardim, enfiei as mãos entre os galhos cheios de rosas e espinhos e os esfreguei contra o meu rosto, foi uma cena dantesca, pavorosa, eu sangrava profusamente, a vovó enlouquecida e o papai perplexo.
Apartir deste dia, todo o poder e pavor que o papai exercia sobre mim, caiu por terra, jamais ele me bateria e não teria mais qualquer influência sobre a minha pessoa.
Passaria eu, a ser submetida as drogas, troquei de feitor.
Por 29 anos fui escravizada pelas drogas.

Assim que me fortalecer, volto a dar continuidade a este relato.