domingo, 15 de novembro de 2009

Tentativa de voltar a estudar.

Logo que a minha filha nasceu, a minha sogra e marido, se imbuíram do espírito de me fazer retornar aos estudos. Me matricularam em um colégio no Humaitá. Eu comecei a estudar a noite, era estranho e facilitador. Conheci e fiquei amigas de várias pessoas, o meu dedo podre não falhou, os amigos mais próximos eram DQs.
Matava aulas, não entendia nada e detestava estar ali. Eu não sabia, mas sofria de DDA (déficte de atenção), mais um distúrbio.
Não me recordo, mas aprontei algumas e saí do colégio. Parei de estudar, para nunca mais voltar, lastimável...

O que me salvou (culturalmente), era o fato de amar a leitura. Meu pai e a minha avó, eram intelectuais, liam muito, ouviam música clássica, faziam palavras cruzadas, e o papai escrevia, e em vários idiomas. Herdei isto de bom deles.

A vida seguia aos trancos e barrancos. Naquele colégio, fiz uma amiga especial, ela era sem dúvida a minha melhor amiga daquela fase, o nome dela era Marcia. Saí do colégio mas, a amizade continuou.
Me esqueci de citar, que por várias vezes e por vários motivos, moramos no Hotel Santa Teresa, isto será importante mais pra frente.

Voltando ao casamento, tudo ia de mal a pior, brigas, ciúmes, drogas, amigos perturbando. Logo depois do incidente da fazenda em Mangaratiba,o Renato assumiu o namoro com a namorada 2, e começaram a frequentar a minha casa.
Era um terror, eu não suportava a namorada, e pior, ela levava sempre a amiga. Eu intuía, mas era tudo muito confuso, que aquela amiga iria me trazer problemas.
Era sempre humilhada e distratada na minha própria casa, pelas duas imbecis.
O Rogério nada fazia, consequentemente eu ficava cada vez mais agressiva. Hoje compreendo perfeitamente o meu comportamento.

Houve um fato tb muito grave, que por mais que eu tente entender, não entendo.
A mãe do Renato, era uma mulher muito estranha, ela namorava um padre, que mais pra frente, virou ex padre. Este relacionamento, como não poderia deixar de ser, era velado, mas muita gente sabia, principalmente a família dela.
Aconteceu, que ela (acho), tinha um outro namorado, e alguém escreveu uma carta anônima para o padre, foi um tumulto, e quem foi a acusada de ter escrito? Eu, isso mesmo, eu. A minha vida virou um inferno, o Rogério não acreditava em mim, acho que nem a minha sogra, eu não tinha mais como me defender de tamanho absurdo, estava fraca e desolada. Pq me atribuíam tal culpa?

O padre, logo que soube de tamanho disparate, saiu em minha defesa, alegou que, eu jamais teria aquela qualidade de escrita e tanto veneno. Estas declarações, envergonharam a todos que me culpavam, menos a mãe do Renato, que guardaria ódio de mim por mais de 20 anos. Mais tarde foi esclarecido, quem escreveu a tal carta, foi a irmã da mãe. Um horror.

Boa semana,amigos!
Domingo que vem continuo.

domingo, 8 de novembro de 2009

A compulsão e a derrocada

Eu já estava novamente nas garras da adicção. O perfil da personalidade se modificava à olhos vistos. Sempre fui uma menina doce, de certo modo tímida, cordial e meiga, mas já estava me tornando agressiva, intolerante e irracional.
A anfetamina era essencial para me animar, e precisava de remédios para dormir. Acordava mal humorada e infeliz, aí recorria ao hipofagin para estabilizar o humor, ficava agitadíssima, era uma bola de neve e o Rogério não percebia, pois só me via a noite.

Começaram as brigas. Ele era tudo para mim, mas já não havia mais nenhuma racionalidade, a co-dependência se instalara e o ciumes doentio tb. Até hoje não sei o que era fato ou imaginação. Os amigos não davam trégua, as interferências eram fortes e prejudiciais ao relacionamento do casal. O Rogério começava a perceber a enrascada em se havia metido, a pouca idade e o entusiasmo da paixão o levaram a uma dolorosa experiência prematura.

Ele (Rogério), começava a negligênciar os compromissos do casamento, chegava tarde e por uma ou duas vezes não dormiu em casa. Em uma destas vezes em que não dormiu em casa, no dia seguinte havia um almoço na casa da minha sogra, ele chegou no final da tarde, não sei como consegui me controlar, mas quando chegamos na nossa casa, descarreguei toda a fúria contida. O meu cunhado na ocasião, havia nos levado em casa e foi a vítima. Arremessei um vaso grande na direção do Rogério, ele desviou e acertei em cheio na cabeça do Claudio, este teve um corte profundo na testa e perdeu os sentidos. Foi o começo do fim.
Eu já percebera, mesmo muito vagamente, que havia algo de errado comigo.

Vou recuar um pouco no tempo. Lá no interior mineiro, onde eu morava com a vovó, eu manifestava alguns sinais de distúrbio, além daquela cena pavorosa com o papai, me envolvi em outra situação grave. A família nunca soube como aconteceu de fato, aliás ninguém. A cidade era Sete Lagoas, havia uma corrida de motos em torno da lagoa central, era um evento e tanto. Combinei com algumas amigas e fomos, chegando lá, as motos estavam aquecendo os motores e correndo para lá e para cá, numa distração das amigas, me joguei na frente de uma moto. O saldo foi bem negativo, me cortei toda, fiquei em frangalhos. Acho que queria morrer.

Fazíamos loucuras quando nos drogavamos, as vezes saíamos do perímetro urbano e íamos para as fazendas próximas, isto quando chovia, pois era a época dos cogumelos. Levávamos docinhos de leite e comíamos in natura mesmo, nada de chá. Voltávamos já ao anoitecer e o caminho era a estrada desativada oficialmente que ligava BH a Brasília, mas ela ligava 5 ou 6 cidades, ou seja tinha movimento. Me recordo de um destes finais de tarde, a lua ia alta e cheia, a onda era alta tb, resolvemos deitar exatamente no meio da estrada e ficar viajando. Preocupação nenhuma e proteção total do Poder Superior. Eu vivia desafiando a morte.

Também fui vítima de muitas armadilhas criadas por "amigos" e da própria vida.
Já casada e com a filhinha ainda bebe, aceitamos um convite do Renato e da namorada (outra, não menos pior do que a anterior) para uma viagem de fim semana. Era uma fazenda na serra de Mangaratiba de um amigo dela (vou chama-la de namorada 2). Lugar muito interessante, e estava cheio de convidados. Recebemos o nosso quarto e nos instalamos. Eu, nesta época ainda não havia retornado as drogas, estava limpa e feliz.

O Rogério já enturmado, eu meio deslocada, até pq, a namorada 2 não fez questão alguma de me apresentar as pessoas. De vez enquando eu procurava o Rogério e ele me procurava, neste meio tempo, eu explorava a natureza. A noite caiu e eles fizeram uma enorme fogueira em volta da lagoa, todos bebiam e se drogavam, eu ficava cada vez mais deslocada. A namorada 2, tinha uma amiga muito antipática e bonita, e já estava intima do Rogério, mas me ignorava. Com o passar do tempo e a loucura crescida, todos menos eu, ficaram nus na fogueira. Fiquei na sala e adormeci, a luz era de lampião, acordei com caricias sob a minha calcinha, permiti crendo que era o Rogério, mas não era, era o dono da casa.
Levantei num salto e corri para a fogueira e para o lado do Rogério. Ele estava doido, mas percebeu que havia algo de errado comigo, me inquiriu, eu dissimulei, disse que havia tido um pesadelo. Fui para o quarto e me tranquei. Quase amanhecendo o Rogério bateu na porta achando muito estranho eu estar trancada, e ainda querendo saber o que havia acontecido, comecei a chorar e acabei relatando.

Hoje,percebo que não deveria ter contado, pois a reação dele foi a pior possível, procurou o cara, e quando achou, bateu muito nele, eram chutes com o coturno, socos e sei lá o que mais. Eu estava apoplética.

Começamos a arrumar as coisas para voltar, o Renato, a namorada 2 e a amiga, voltariam conosco. A viagem de volta inteira, fui agredida verbalmente pelas duas, e o Rogério não me defendeu. Foi um pesadelo.

Paro por aqui, estou tremendo com estas lembranças...
Abraços, queridos amigos, obrigada por dividirem comigo este passado doloroso.
Dor dividida é dor diminuída.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Retomada do blog

A minha vida fluia com muita alegria e entusiasmo. Lidava com a inveja, que aliás sempre me acompanhou de perto, coisa que nunca consegui entender, pois tivera tão pouco e ainda assim, era e ainda sou alvo certo da inveja alheia, acho que pela minha alegria nata, minha capacidade de superação e pela minha boa índole.

A minha tão esperada e desejada filha nasceu, cercada por muitos mimos e cuidados. Nasceu com muita saúde e linda, recebeu o nome de Andrea. Era um amor de criança, muito boazinha.

A minha vida nesta época, parecia um conto de fadas, tinha o homem que amava, a filha desejada e segurança. Passeava diariamente no Parque Laje com ela, dividia os cuidados com a minha sogra, que era muito diligente.

A Andrea contava com alguns meses, quando nos mudamos para o apartamento de cobertura que ganhamos dos meus sogros na Tijuca. Lá as coisas começaram a ficar um pouco mais difíceis, eu era finalmente a dona da casa.

Encontrei muita dificuldade em exercer tal função, pois não sabia nada, a vovó não me havia preparado e também não teve tempo, tudo em mim era precoce. Eu tinha apenas 17 anos, uma filha, marido e uma casa. O meu marido tinha uma úlcera duodenal e requeria cuidados especiais com a alimentação, eu por minha vez não tinha, como não tenho até hoje, habilidades culinárias. Começou a ficar difícil, a Andrea exigia muita atenção (como qq bebe), o apartamento era relativamente pequeno, mas dava trabalho. Comecei a negligenciar.

Com o advento do apartamento, os amigos, que nos frequentavam na casa dos meus sogros, o faziam parcimoniosamente por ser a casa dos sogros, mas a coisa ficou muito diferente quanto passamos a ter o nosso lar. Virou a casa da "sogra" todos os dias a casa estava cheia, o Rogério estudava a noite e quando voltava, estava invariávelmente acompanhado de algum amigo e da namorada. Eles dormiam por lá mesmo, o que começou a me aborrecer. Todos usavam drogas e logo eu recomeçaria a me drogar.

A coisa começou devagar, para rapidamente dar espaço a uma compulssão desenfreada. Nada ajudava, ficava sosinha o tempo todo, o Rogério trabalhava período integral e estudava a noite, o endereço era Tijuca, quase ninguém, exeto os malucos (e a noite), iam me visitar, não conhecia ninguém naquele bairro que me parecia hostil. Eu começava a ficar nervosa com qq coisa, a Andrea não gostava de comer, isso me deixava muito aflita, aí eu brigava e dava palmadas nela, depois o remorso me atormentava, percebia que não estava me saindo bem como dona de casa, e várias outras coisas das quais não estava acostumada e tão pouco supus que aconteceriam, estavam acontecendo. Não era um conto de fadas, "era a vida como ela é".

Logo depois que a Andrea nasceu, me receitaram um remédio para ajudar a voltar ao peso anterior. Adorei, o remédio era uma anfetamina, ainda não conhecida por mim. Hipofagim, operava maravilhas na minha "vida", me induzia a uma disposição absurda e sempre tudo estava bem. Quando cheguei ao peso ideal, não conseguia mais viver sem a droga, passei a fazer dele (remédio) uso continuo e de acordo com o meu humor e atividades rotineiras.

Ainda não tinha me dado conta da gravidade da situação e ninguém me sinalizou nada, naquela época, tudo relacionado a drogas e aos seus efeitos, eram ainda ignorados, só havia o tabu.

Continuo em breve.
Só por hoje, estou limpa há 10 anos 8 meses e 22 dias.
Somente pela graça de DEUS, e pouco da minha boa vontade.